sábado, 27 de novembro de 2010

FAMÍLIA É PRATO DIFÍCIL DE PREPARAR
(do livro "O Arroz de Palma",de Francisco Azevedo)

"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini, Família à Belle Meuni; Família ao Molho Pardo, em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é a Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seriam assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.

Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

MENINA DE OURO-PRATA-BRONZE

Minha menina de ouro conquistou o bronze no concurso da Anglogold, o maior concurso de joias de ouro do mundo.
Imaginem uma menina encantadora - a minha LIS - pensando que queria muito mais do que ser publicitária e sem saber que rumo tomar...e mamy aqui, sem saber o que dizer pra tal moça bacana.
Fez um curso legal, graduou-se e teve homenagem de criação na formatura, trabalhou com moda, foi trapaceada pelo sujeito que vendia carnê do Baú da Felicidade numa kombi, fez estágio bem remunerado na empresa de publicidade de um dos "mensaleiros", não gostou da experiência e deu de fazer o curso de joalheria, pós-graduação na área, montou a oficina de jóias e pronto!!! T'aqui minha menina, brilhando mais que ouro em tudo o que se aventura a fazer.
A festa foi linda. Palácio das Artes pequeno pra tanta emoção. Eu, mãe apaixonada pela ninhada que sou, não sabia se ria ou chorava. Achei que o "mais bom" era comemorar com ela, abraçar muito, brindar, alegrar.
Com ela e todos os amigos parceiros pra sempre, que andam comigo pela vida.

http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL1630663-9798,00-LUIZA+BRUNET+POSA+COM+AS+JOIAS+VENCEDORAS+DE+CONCURSO+EM+BH.html


terça-feira, 9 de novembro de 2010

DO BANCO DE LEITE AO ENEM

Vivi com meu "anjo fiote" a ansiedade dos exames do ENEM. Passamos um fim de semana por conta de arrumar lanches pra levar, conferir documentos e material, dormir mais cedo pra acordar bem disposto, ter uma alimentação balanceada, enfim, dedicamos 2 dias às tais provas, ele como candidato a uma vaga na universidade e eu como mãe cuidadosa.
Pra quê? Pra ver a desorganização e irresponsabilidade do MEC atrapalharem toda a preparação técnica e emocional dos alunos.
A escola onde meu filho fez as provas ficou sem luz até as 15 horas; desde 1/2 dia os candidatos estavam lá dentro e não puderam sair até que a energia elétrica fosse reestabelecida, já que a faculdade Pitágoras não tem geradores. Terminaram a prova às 19:30h, exaustos e estressados. Domingo foi menos tumultuado , o que não impediu que houvesse confusão em alguns locais de aplicação das provas, inclusive com um aluno fotografando as questões e enviando pelo celular sei lá pra quem. É, o aluno entrou com celular, o que era - ou deveria ser - expressamente proibido e fiscalizado. Não foi.
Agora a notícia de que os exames podem ser anulados. Não quero acreditar que o ENEM vai ser motivo de chacota sempre, que ano após ano os responsáveis provem sua incapacidade pra organizar o que é de sua alçada, com todas as condições pra fazer um trabalho bem feito e não o fazem. Mais uma vez, azar dos alunos que estavam bem preparados.
Quando vejo meu menino que foi amamentado por mais de 2 anos, bem cuidado até mandar parar, estudou em excelentes escolas, trabalha desde os 15 anos, criou um jogo na internet que já tem dado frutos, enfim, é difícil de acreditar que virou um homem. Assustei quando fui deixá-lo lá no primeiro dia, eu mais agoniada do que ele. Estava seguro, equilibrado, preparado pra tomar seu primeiro rumo na vida por sua própria e solitária escolha. Definiu o curso, fez a inscrição, matriculou-se no cursinho prévestibular, estudou por 9 horas todos os dias, deu conta até aqui. Vai dar sempre, aposto. É um sujeito bacana.
Chorei emocionada me lembrando dele pequeninho, mamando no peito e me dividindo com outras crianças que também amamentei - o primo que foi adotado e a mãe ainda não sabia o que fazer com o bebê que surgiu de uma hora pra outra; o filho do amigo do pai, que era prematuro e o leite da mãe secou por causa da depressão pós parto; os bebês internados e ainda na incubadora, que eram alimentados com doação de leite materno para o banco de leite.
Era até engraçado. O furgão da maternidade vinha à nossa casa uma vez por semana, deixava 7 mamadeiras esterilizadas e levava outras 7 cheias de leite materno congelado. Durante a semana eu ia enchendo com o que sobrava depois que todos mamavam - não desperdiçava nada. Primeiro mamava Tuti, depois íamos pra casa do prematuro, depois pra casa do que foi adotado, depois tirava e ia enchendo as mamadeiras. Nessa mexida já era hora de repetir a "operação", então imaginem o que mais eu fazia além de amamentar, tomar banho, comer e dormir? Nada. Não sobrava tempo. Durante mais de um ano foi assim, até que mantive só o de meu menino - ate o desmame, muito tempo depois.
Chegou uma hora em que não deu mais, não porque não quiséssemos, mas porque ele rejeitava a maioria dos alimentos, só queria peito, e puxava minha roupa na rua ou em qualquer lugar quando a fome batia. Demoramos pra dar conta de desapegar, e nem sei bem se demos. Temos uma ligação eterna como mãe e filho, eu sei, mas sinto ainda uma comunicação interna que é, muitas vezes, inexplicável. Um sempre sabe o que tá acontecendo com o outro, mesmo sem precisar contar.
Agora está ele aí, neste mundão de meu Deus, escrevendo sua história do jeito que escolheu. E eu aqui, com o colo.
E os trabalhadores do governo lá, sem saber fazer uma prova direito, deixando nossos meninos sem saber se o esforço que fizeram vai valer.
Dá pra entender?