sábado, 30 de abril de 2011

ENTRE AMIGAS

Coisa boa é um grupo de amigas sair às compras, muito mais bacana do que qualquer homem possa entender. Foi o que fizemos eu, Alba, Juráila, Diana e Lêda num domingo sem marido ou filhos. O destino foi o Sams Club, onde nenhuma delas tinha ido antes.
De cara as emoções já começaram quando vimos os folhetos de promoções. Cada uma pegou um daqueles carrinhos enormes que no primeiro corredor já estavam praticamente cheios.
Nada escapava - de bacia pra fazer quitanda a banhos de assento; embalagens gigantes de papel higiênico (leve 48 pague 36), litros e mais litros de shampoo, malas de 8 rodinhas (perfeitas pr'as viajantes de plantão), pacotes de 5 kg de farinha de trigo pra fazer pão de cristo com a isca que Alba trouxe de Itambacuri (no colo, pra não supitar o fermento durante a viagem), ovos de páscoa de todas as marcas e tamanhos (que foram deixados pra trás porque, como diz Dica, toda mulher tem outras 2 dentro de si - a doida manda comprar tudo e a ajuizada manda devolver antes de passar no caixa), galões e mais galões de amaciante, detergente, água sanitária; pacotes de 1 kg de sazon, ração pra cachorro, tapetes pra banheiro, peças de presunto, chester, kits de toalhas de banho e rosto, tábua bacanérrima de passar roupas, ferro de passar profi ( com caldeira e tudo, igual de lavanderia), mantas inteiras de bacon, bacalhau, batatas fritas com carinhas smiles (em embalagens enormes!), caixas com sei lá quantos pacotinhos de bombril, estante com nichos para guardar brinquedos que virou organizadora pro closet de Jú (e que os filhos dela pensaram que era pra reciclagem de lixo), cabides, pão integral, sucrilhos...

Tem ainda as encomendas pras amigas ausentes que, sendo avisadas pelo celular sobre as promoções imperdíveis (telefonemas intermunicipais, diga-se de passagem), autorizam a compra sem ao menos ver (fraldas pro neto que ainda nem nasceu, achocolatados, aquela bebida que alguém falou que fortalece os ossos e impede a osteoporose, travesseiros).

Então tá - tudo comprado, é hora de guardar no carro. E pra caber? Lembrava uma gincana da tv anos atrás, que mandava colocar 20 pessoas dentro de um Fusca. Claro que ficou saindo gente - e mercadorias - pelas janelas, mas a alegria era maior que qualquer aperto. E o povo olhando, sem entender aquele bando de mulheres carregadas de compras falando todas ao mesmo tempo, rindo de chorar e combinando a próxima excursão.

E ainda tem gente que fala que felicidade não existe.

* Hoje é aniversário de meu vô Antonino - 103 anos. Parabéns, vovô!!!

sábado, 23 de abril de 2011

CHEIROS

· Itambacuri só tinha um carteiro – Zezé, que entregava as cartas de bicicleta. Quando ele entrava em férias tínhamos que ir ao correio ver se tinha correspondência. Os rapazes da cidade quase todos moravam no internato em Conceição do Mato Dentro e ficávamos ansiosas por notícias deles, nossos namorados. Telefone era muito caro e eles só iam pra lá nas férias – janeiro e julho, então a única comunicação era por carta. Eu namorava firme e tinha um trato de escrever todos os dias, então toda quinta recebia 3 cartas que foram escritas sexta, sábado e domingo anteriores e colocadas no correio na segunda daquela semana. Precisávamos ajudar a outra funcionária do correio a separar as cartas pra achar as endereçadas a nós. Lembro bem que a primeira coisa que eu fazia ao pegar no envelope era cheirar, porque a memória afetiva traz consigo o cheiro de quem escreveu. Nos últimos 20 anos as únicas cartas à mão que recebi foram escritas por mamãe, meu Walmir e Aninha Malfacini. Reconheci o cheiro de cada um deles nelas. E me emocionei a cada vez, que nem dia desses, comendo pequi.

· Cheiro de Pequi me traz a deliciosa presença de papai, me leva à infância sentada no chão com a cumbuca se enchendo de caroços - eu roendo e papai olhando, atento pra que não ferisse minha boca com os espinhos. No tal dia ele não estava aqui pra me olhar e furei a língua toda. Juráila se valeu de uma pinça e tirou os que conseguiu, mas muitos teimaram em se esconder e ficaram. Walmir brigou porque não tive cuidado e me machuco como uma adolescente estabanada, mas valeu a pena. Naquela noite sonhei com papai.

· Cheiro de fumaça me lembra as fogueiras em Castorina; cheiro de bebê, meus meninos pequeninhos; cachaça, a roça de Zé Lú; terra molhada, o quintal de vovô quando chovia; pele queimada, matança de porco na casa de mamãe; torra de café, comunidade Noiva do Cordeiro; cheiro de pão assando, minha casa desde sempre.

· Tem também os cheiros que nos remetem a lembranças ruins. A primeira coisa que acontece quando desgostamos de alguém é desagradar do cheiro. Aí não tem jeito. Acabou mesmo.

· Bom que os deliciosos são muito mais que os não bons. Cheirosas lembranças pra todo mundo!

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