sábado, 28 de maio de 2011

De Walmir para Lis

Lis,

seus anjos de guarda são dois. Um fala agora, o outro depois.
Este que agora fala garante um momento justo, com brincos de prata e ouro, junta formas a esmo coisas foscas ou brilhares, que vêm de tantos lugares que nem os anjos se lembram, mas tocam em frente o processo.

Escreva então outro verso!

E sua mão obedece cegamente, comportada, e mesmo que não diga nada, no fim a forma te intriga.

O outro anjo te escuta, pondera, discute contigo, aconselha como amigo a escolher cada pedra, evitando o perigo de registrar cegamente as coisas que vêm à mente e comprometem depois.
Você tem muitos amigos, mas anjos de guarda, só dois.

Um deles volta à carga e te mantém artesando e criando e bebendo. Você é só instrumento de mensagens imediatas, de conclusões provisórias que, se não contam histórias, também não são um lamento.

Tens uma história simples, uma família normal, tens amigos, colegas e um afeto especial. Tens coisas diferentes, às vezes incompatíveis, milhares de neurônios e um curso superior que contigo se indispôs.

Tens um milhão de motivos, mas, anjos da guarda, só dois.

Rogas pragas criativas: “mas que puta que pariu”, xingas. No sábado ou no domingo e às vezes pela semana, dizes que vai à merda e oferece carona, mas se comporta direito. Paras no bar, se abastece, te dás o que bem mereces e não reclamas depois.
Você tem muitos defeitos, mas anjos de guarda, só dois.

Rende à fadiga do corpo, à meditação necessária. Para, limpa a área mais ou menos e vai descansar, finalmente. Come do último doce e liga a televisão. Viver assim, não é mole, mas tudo sempre se encontra no lugar onde se pôs.

E vais dormir. Boa noite

Tu e seus anjos. Os dois.

sábado, 14 de maio de 2011

CASA DAS MENINAS

Lis, minha flor mais linda, virou passarinha e voou.
Não foi assim, de repente, fugiu da gaiola quando fui colocar água fresca e comida. Não - foi de caso pensado e sem nenhuma precipitação.
Vinha falando na mudança há algum tempo, no sonho de ter seu canto, das amigas que queriam sua companhia na casa nova, no amor pelo mar e pelos ares do Rio, nas aventuras e desventuras vividas na cidade maravilhosa em infindáveis vezes que esteve por lá, umas experiências mais e outras menos alegres - mas todas elas muito bacanas.
Escolheu Bebel como parceira pra este tempo de vida. Muito lindo ver a empolgação das duas fazendo listas, programando a festa de inauguração, definindo lugar pros adornos que contam histórias da vida de cada uma, começando uma nova fase na amizade de longa data.
Passei uns dias por lá, ajudando a organizar a mudança. Quatro dias foi o bastante pra voltar com a sensação de dever cumprido, deixando o resto por conta delas. Não tenho nenhuma dúvida de que vão dar conta - e bem.
Cantinho do café, tv anos 60, cantinho da reza, caderno de receitas, parangolé, mata ao fundo, araras, baú e móveis antigos, mistura de livros e discos, tamborim, pinguim de geladeira, espumante e cachaça, cafeteira daquela terra distante que trouxe de viagem, copos lagoinha e ajeitos de bom gosto. Tudo lindo e cheio de causos pra contar.
Ficou linda a casa das meninas!
E minha passarinha vai aprendendo a construir e cuidar de seu novo ninho.